Num mundo enlouquecido, o rock e a música em geral tem a função de lutar para restabelecer a sensatez num mundo insensato e direcioná-lo para a transformação social radical e total.
A música da banda Nau dos Insensatos traz uma forte crítica social ao discurso identitários e ideologias da identidade. Criticando tanto a concepção essencialista quanto a culturalista de identidade, a música coloca que o indivíduo perde sua individualidade ao ficar preso numa determinada "identidade" que é criada socialmente e cujo objetivo é integrar o indivíduo na sociedade capitalista visando sua reprodução. A identidade de mera autoimagem que o indivíduo cria sobre si mesmo passa a ser, no reino nebuloso das ideologias e concepções ilusórias da realidade, bem como na vida prática de muitas pessoas, uma prisão. Esse reducionismo produz uma redução do indivíduo em toda sua complexidade (e diversos pertencimentos, como os de classe, raça, sexo, região, cultura, etc.) a um ser limitado e estereotipado, que se vê com um ser unilateral ao invés de onilateral, o que tem efeitos sociais e políticos danosos e reforça o processo de reprodução da sociedade existente.
00:16:21 – O Barco da Insensatez (Nau
dos Insensatos II).
00:19:58 – Teatro Noturno.
00:25:20 – Serenidade.
00:28:16 – Nosso Encontro Sideral.
00:30:57 – Pedra e Flor.
O segundo álbum da Nau dos
Insensatos, “Vetos e Anelos” traz dois elementos que predominam nas dez músicas
que o compõe. Cinco músicas são “vetos” às relações sociais e/ou suas
expressões ideológicas, ou seja, são músicas marcadas por críticas sociais.
Cinco músicas são “anelos”, ou seja, expressões de anseios vinculados às
necessidades psíquicas dos seres humanos. Sem dúvida, existem anelos nas cinco
músicas em que predominam a crítica social, bem como crítica social nas cinco
músicas que tratam de anelos, sendo, pois apenas questão de predomínio, embora
muitas vezes a sutileza e a ficcionalidade impeça uma percepção imediata desses
elementos. Por outro lado, são os anelos (vinculados aos sentimentos simpáticos)
que incentivam e geram a crítica social.
As dez músicas do álbum são as
seguintes:
“O Rio” (00:00:00) trata do
anelo da esperança, da mudança, da utopia, através da capacidade de se reanimar
e recuperar as energias, renovando as forças para a luta pela transformação radical
e total das relações sociais. O “Rio” é uma metáfora da esperança (utopia), animus,
amor, meio ambiente, etc. Em síntese, é uma “multimetaforização” do rio que
carrega várias submensagens, mas todas giram em torno do tema fundamental da
esperança e do animus que se articula com os demais sentidos metafóricos.
“Vida Negras” (00:03:34)
denuncia o racismo e suas raízes sociais e de classe e, ao mesmo tempo, a falsa
luta contra ele, bem como a falsa comoção e preocupação com a questão racial de
muitas pessoas na sociedade atual, inclusive ativistas e outros que visam
retorno pessoal e vantagem competitiva ao invés de solucionar o problema da
população negra, que é social. O vínculo da questão racial com as questões sociais
e de classe social é o principal elemento da crítica social tanto ao racismo
quando aos seus supostos opositores, verdadeiros ou falsos, sinceros ou insinceros.
“Identidade” (00:06:54) é uma
crítica social ao discurso identitário, caracterizado por reduzir os seres
humanos em sua totalidade e complexidade a uma mera “identidade”, sendo que
esta é produzida socialmente, mesmo quando os indivíduos a consideram uma
“essência” ou “autocriação”. O ser humano reduzido a uma identidade significa
que ele abandona a luta por suas necessidades humanas mais profundas – que o
colocariam em confronto com a sociedade capitalista – e passa a girar em torno
de sua “identidade” como uma prisão, sendo que suas reivindicações podem ser
parcialmente atendidas nessa sociedade, embora com suas oposições e contradições,
bem como gerando conflitos e afastamentos. A prisão da identidade faz da vida
cotidiana dos seus prisioneiros um “eterno harakiri”.
“Júlia” (Barreira
Invisível) (00:09:35) é um convite para todas as “Júlias”, ou, ainda, a
todos os seres humanos a superar as “coisas perecíveis” e romper com a
“barreira invisível” que impede a luta pela libertação humana. Num mundo
“dominado pelos boçais” é preciso que os “românticos de todo mundo” se unam,
criando um novo romantismo, união dos sentimentos simpáticos e amorosos com a
vontade revolucionária e “exigindo o impossível”, como fizeram os estudantes
durante a rebelião estudantil de Maio de 1968.
“Rock Sem Nota” é uma crítica
ao formalismo e superficialidade do rock trivial que busca o sucesso a qualquer
custo, bem como sua ligação com a mercantilização da música e domínio do
capital comunicacional. A música critica o formalismo musical em geral e faz um
jogo de palavras com a palavra “nota” e seus vários sentidos: nota musical, nota
de provas (avaliação, exame escolar), nota de dinheiro (moeda), nota do verbo
notar (ação de observar).
"O Barco da Insensatez" (Nau
dos Insensatos II) (00:16:21) é uma recapitulação da música “Nau dos
Insensatos”, que saiu no álbum “Homem ao Mar”. Uma forte crítica
social à sociedade capitalista em sua totalidade e diversos aspectos e elementos
dela. Nesse processo aparecem as classes sociais, contradições, competição
social, ilusões, esquerda, direita, religiosos, professores, filósofos,
burocratas, cantores, artistas, jornalistas, ativistas, jovens, psicopatas e
muitos outros agentes e elementos do capitalismo. Por fim, a mensagem
fundamental: “se você quer esperança, saia do (desse) barco da insensatez, e
lute pela mudança” (radical e total).
"Teatro Noturno" (00:19:58) é
uma música que tematiza os sonhos e o universo onírico. Os sonhos são
apresentados como um teatro no qual histórias irreais são apresentadas e não possuem
sentido e ordem, como uma “casa sem porta”. O sonho com um teatro no qual o
psicanalista Erich Fromm é o astro do show explica o que isso significa. Os
sonhos expressam necessidades humanas e conflitos psíquicos, os anelos e outros
processos psíquicos se manifestam, mas sob forma onírica. O final da música
revela o anelo dos anelos, a libertação humana: voo (símbolo de
liberdade), pessoas felizes, crianças brincando, comemorando a autoemancipação.
"Serenidade" (00:25:20) é uma
música que trata do anelo de sossego e superação dos conflitos e competições da
vida cotidiana, indo da luta de classes, passando pela competição social, até
chegar nos seus derivados, os conflitos interindividuais. Essa busca de serenidade
só poderá se concretizar plenamente numa sociedade futura, mas hoje os seres
humanos precisam de momentos serenos para poder se reanimar e renovar suas
energias e forças para continuar na luta por uma nova sociedade. A criação de
um espaço de serenidade individual, uma pequena ilha de sossego, é fundamental
psiquicamente para continuar na luta e manter acesa a chama utópica e
revolucionária.
"Nosso Encontro Sideral" (00:28:16)
relaciona a esperança e o romance, mostrando um momento em que o amor erótico é
um incentivo para a luta pela libertação e generalização dos sentimentos simpáticos.
O anelo humano fundamental, produto do processo de humanização, de unidade com
outro ser humano realizando uma autossatisfação/satisfação mútua e
complementação sexual e afetiva, é apresentado. Isso é importante pelo motivo de
que tal anelo é reprimido na sociedade capitalista, pois ela apenas incentiva a
sua idealização (o amor romântico) e impede sua realização plena, a não ser em
casos raros. O “encontro” permite a reanimação para a luta e generalização dos “encontros
siderais”.
"Pedra e Flor" (00:30:57) também
aborda o anelo do amor erótico e mostra o processo contraditório entre as
pessoas enamoradas, cuja relação pode ser marcada por momentos de rigidez/frieza
com momentos de delicadeza/amor, tal como nas expressões metafóricas “pedra e
flor”. O amor erótico autêntico e pleno é anticapitalista e o capitalismo é a
negação do amor erótico autêntico e pleno e por isso a contradição no seu
interior e a repressão desse anelo.
A Banda de Rock Nau dos Insensatos,
de Goiânia, apresenta sua música "O Rio", composta por Nildo Viana.
Com uma letra reflexiva e envolvente, a música apresenta uma dupla mensagem, por um lado aborda a importância dos rios
para a vida e a necessidade de preservá-los e, por outro, trata metaforicamente da necessidade de esperança e renovação.
Banda: Nau dos Insensatos
Música: O Rio
Compositor: Nildo Viana
No canal da banda no YouTube, os fãs
podem encontrar o videoclipe oficial da música "O Rio" e conferir
outros trabalhos da Nau dos Insensatos. O endereço do canal é
https://www.youtube.com/@naudosinsensatos.
Letra da música "O Rio":
O RIO
Nildo Viana
Toda cidade tem um rio
Assim como toda estrela tem um
brilho
E todo passarinho faz seu ninho
E o frio sempre provoca arrepio
Eu me banho no rio
Eu renasço, eu revivo
Eu me banho no rio
Eu renasço, eu revivo
O rio pode ser verde ou vermelho
A transparência pode revelar o
desvelo
A sujeira pode expressar o desleixo
A cor é um símbolo dentro do meu
peito
A tristeza aparece quando o rio seca
A esperança acaba e mais nada nos
resta
Na beira do rio não tem mais festa
O sonho resiste para eu não franzir
a testa
Eu me banho no rio
Eu renasço, eu revivo
Eu me banho no rio
Eu renasço, eu revivo
A alegria aparece quando o rio nos
refresca
Afasta o calor e a dor que nos
molesta
Na escuridão ele abre uma fresta
A vida [e a beleza] então se manifesta
Não deixem o rio morrer
O seu leito está cada vez mais
estreito
Isso aumenta a dor no meu peito
Só o rio pode trazer um futuro refeito
Eu me banho no rio
Eu renasço, eu revivo
Eu me banho no rio
Eu renasço, eu revivo
Com uma mensagem poderosa e um som
marcante, a Nau dos Insensatos espera sensibilizar o público sobre a
importância da preservação dos rios e inspirar ações em prol do meio ambiente.
Prepare-se para se emocionar e refletir com "O Rio" da Nau dos
Insensatos.
Álbum: Homem ao Mar
Ano: 2021
Produção: Gérmen Produções
Letra:
Vejam quem está embarcando no navio
Covardes que se aventuram no mar bravio
Bem-vindo à nau dos insensatos
No comando um capitão caricato
Comandando marinheiros gaiatos
E com o porão cheio de ratos
Gente rica que o dinheiro falsifica
Gente pobre que o dinheiro prejudica
O mal-estar está presente
E todo mundo finge que não sente
Você que entra abandone a lucidez
Não há autonomia ou esperança
No barco da insensatez
Você que entra abandone a lucidez
Não há autonomia ou esperança
No barco da insensatez
Intelectuais sem leitura e reflexão
Seguem o fluxo da ilusão
Burocratas sem normas e ação
Seguem sem direção
Artistas que fazem sua arte no pinico
Reclamando do lixeiro que a joga no lixo
O professor que não ensina
De sua boca só sai mentira
Você que entra abandone a lucidez
Não há autonomia ou esperança
No barco da insensatez
Você que entra abandone a lucidez
Não há autonomia ou esperança
No barco da insensatez
Progressistas loucos por dinheiro e poder
Querem ganhar e não sabem perder
Conservadores fanáticos pela grana
Querendo velejar em sua terra plana
Vivente com lugar de fala
Tagarela que só atrapalha
Modistas criando linguagem neutra
Agora o belo é ser um apedeuta
Você que entra abandone a lucidez
Não há autonomia ou esperança
No barco da insensatez
Você que entra abandone a lucidez
Não há autonomia ou esperança
No barco da insensatez
E você embarcou no Titanic
Tranquilo como se fosse a um piquenique
E agora está num barco rumo ao vagalhão
Sem bússola e sem capitão!
Você que entra abandone a lucidez
Não há autonomia ou esperança
No barco da insensatez
Você que entra abandone a lucidez
Não há autonomia ou esperança
No barco da insensatez
Você que entra abandone a lucidez
Não há autonomia ou esperança
No barco da insensatez
Veja álbum completo em:
https://youtu.be/JbNaeM2c7Bw
Essas e outras músicas você ouve na Rádio Germinal:
http://radiogerminal.com