terça-feira, 10 de dezembro de 2024

 

Álbum: Vetos e Anelos

Banda: Nau dos Insensatos

Composição: Nildo Viana

Ano de lançamento: 2024

 

Faixas:

00:00:00 – O Rio.

00:03:34 – Vidas Negras.

00:06:54 – Identidade.

00:09: 35 – Júlia (Barreira Invisível).

00:12:56 – Rock sem Nota.

00:16:21 – O Barco da Insensatez (Nau dos Insensatos II).

00:19:58 – Teatro Noturno.

00:25:20 – Serenidade.

00:28:16 – Nosso Encontro Sideral.

00:30:57 – Pedra e Flor.

 

O segundo álbum da Nau dos Insensatos, “Vetos e Anelos” traz dois elementos que predominam nas dez músicas que o compõe. Cinco músicas são “vetos” às relações sociais e/ou suas expressões ideológicas, ou seja, são músicas marcadas por críticas sociais. Cinco músicas são “anelos”, ou seja, expressões de anseios vinculados às necessidades psíquicas dos seres humanos. Sem dúvida, existem anelos nas cinco músicas em que predominam a crítica social, bem como crítica social nas cinco músicas que tratam de anelos, sendo, pois apenas questão de predomínio, embora muitas vezes a sutileza e a ficcionalidade impeça uma percepção imediata desses elementos. Por outro lado, são os anelos (vinculados aos sentimentos simpáticos) que incentivam e geram a crítica social.

 

As dez músicas do álbum são as seguintes:

 

O Rio” (00:00:00) trata do anelo da esperança, da mudança, da utopia, através da capacidade de se reanimar e recuperar as energias, renovando as forças para a luta pela transformação radical e total das relações sociais. O “Rio” é uma metáfora da esperança (utopia), animus, amor, meio ambiente, etc. Em síntese, é uma “multimetaforização” do rio que carrega várias submensagens, mas todas giram em torno do tema fundamental da esperança e do animus que se articula com os demais sentidos metafóricos.

 

Vida Negras” (00:03:34) denuncia o racismo e suas raízes sociais e de classe e, ao mesmo tempo, a falsa luta contra ele, bem como a falsa comoção e preocupação com a questão racial de muitas pessoas na sociedade atual, inclusive ativistas e outros que visam retorno pessoal e vantagem competitiva ao invés de solucionar o problema da população negra, que é social. O vínculo da questão racial com as questões sociais e de classe social é o principal elemento da crítica social tanto ao racismo quando aos seus supostos opositores, verdadeiros ou falsos, sinceros ou insinceros.

 

“Identidade” (00:06:54) é uma crítica social ao discurso identitário, caracterizado por reduzir os seres humanos em sua totalidade e complexidade a uma mera “identidade”, sendo que esta é produzida socialmente, mesmo quando os indivíduos a consideram uma “essência” ou “autocriação”. O ser humano reduzido a uma identidade significa que ele abandona a luta por suas necessidades humanas mais profundas – que o colocariam em confronto com a sociedade capitalista – e passa a girar em torno de sua “identidade” como uma prisão, sendo que suas reivindicações podem ser parcialmente atendidas nessa sociedade, embora com suas oposições e contradições, bem como gerando conflitos e afastamentos. A prisão da identidade faz da vida cotidiana dos seus prisioneiros um “eterno harakiri”.

 

“Júlia” (Barreira Invisível) (00:09:35) é um convite para todas as “Júlias”, ou, ainda, a todos os seres humanos a superar as “coisas perecíveis” e romper com a “barreira invisível” que impede a luta pela libertação humana. Num mundo “dominado pelos boçais” é preciso que os “românticos de todo mundo” se unam, criando um novo romantismo, união dos sentimentos simpáticos e amorosos com a vontade revolucionária e “exigindo o impossível”, como fizeram os estudantes durante a rebelião estudantil de Maio de 1968.

 

Rock Sem Nota” é uma crítica ao formalismo e superficialidade do rock trivial que busca o sucesso a qualquer custo, bem como sua ligação com a mercantilização da música e domínio do capital comunicacional. A música critica o formalismo musical em geral e faz um jogo de palavras com a palavra “nota” e seus vários sentidos: nota musical, nota de provas (avaliação, exame escolar), nota de dinheiro (moeda), nota do verbo notar (ação de observar).

 

"O Barco da Insensatez" (Nau dos Insensatos II) (00:16:21) é uma recapitulação da música “Nau dos Insensatos”, que saiu no álbum “Homem ao Mar”. Uma forte crítica social à sociedade capitalista em sua totalidade e diversos aspectos e elementos dela. Nesse processo aparecem as classes sociais, contradições, competição social, ilusões, esquerda, direita, religiosos, professores, filósofos, burocratas, cantores, artistas, jornalistas, ativistas, jovens, psicopatas e muitos outros agentes e elementos do capitalismo. Por fim, a mensagem fundamental: “se você quer esperança, saia do (desse) barco da insensatez, e lute pela mudança” (radical e total).

 

"Teatro Noturno" (00:19:58) é uma música que tematiza os sonhos e o universo onírico. Os sonhos são apresentados como um teatro no qual histórias irreais são apresentadas e não possuem sentido e ordem, como uma “casa sem porta”. O sonho com um teatro no qual o psicanalista Erich Fromm é o astro do show explica o que isso significa. Os sonhos expressam necessidades humanas e conflitos psíquicos, os anelos e outros processos psíquicos se manifestam, mas sob forma onírica. O final da música revela o anelo dos anelos, a libertação humana: voo (símbolo de liberdade), pessoas felizes, crianças brincando, comemorando a autoemancipação.

 

"Serenidade" (00:25:20) é uma música que trata do anelo de sossego e superação dos conflitos e competições da vida cotidiana, indo da luta de classes, passando pela competição social, até chegar nos seus derivados, os conflitos interindividuais. Essa busca de serenidade só poderá se concretizar plenamente numa sociedade futura, mas hoje os seres humanos precisam de momentos serenos para poder se reanimar e renovar suas energias e forças para continuar na luta por uma nova sociedade. A criação de um espaço de serenidade individual, uma pequena ilha de sossego, é fundamental psiquicamente para continuar na luta e manter acesa a chama utópica e revolucionária.

 

"Nosso Encontro Sideral" (00:28:16) relaciona a esperança e o romance, mostrando um momento em que o amor erótico é um incentivo para a luta pela libertação e generalização dos sentimentos simpáticos. O anelo humano fundamental, produto do processo de humanização, de unidade com outro ser humano realizando uma autossatisfação/satisfação mútua e complementação sexual e afetiva, é apresentado. Isso é importante pelo motivo de que tal anelo é reprimido na sociedade capitalista, pois ela apenas incentiva a sua idealização (o amor romântico) e impede sua realização plena, a não ser em casos raros. O “encontro” permite a reanimação para a luta e generalização dos “encontros siderais”.

 

"Pedra e Flor" (00:30:57) também aborda o anelo do amor erótico e mostra o processo contraditório entre as pessoas enamoradas, cuja relação pode ser marcada por momentos de rigidez/frieza com momentos de delicadeza/amor, tal como nas expressões metafóricas “pedra e flor”. O amor erótico autêntico e pleno é anticapitalista e o capitalismo é a negação do amor erótico autêntico e pleno e por isso a contradição no seu interior e a repressão desse anelo.




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